domingo, 1 de agosto de 2010

Vou diminuir para melhorar

Ilustração do meu livro “O bebê e o seu carro do lixo”

Por Jonas Lemos*

Como eu não percebo que ainda sou o mesmo...
Como eu não me dou conta de que o novo é sempre o velho...
Como eu não enxergo que o que há de vir já veio e ainda retornará para os meus filhos como algo novo, como algo extraordinário e inovador.
Será que vou precisar de mais tempo para perceber que o que está agora é o que já foi, é o que já esteve e é o que ainda há de vir? Preciso voltar e ver o que perdi nesta fila que andou...

É extremamente preciso sentar com meu filho e redescobrir o que ele acaba de aprender como novo, quem sabe talvez eu recomece a ver tudo outra vez, só que agora com mais esperança, com mais fé, mais fantasia e com mais alegria.
Talvez eu precise reaprender a vibrar como ele vibra, a acreditar como ele acredita, 
a tomar como verdadeiro o mundo imaginário. Sonhar. Isso! Devo reaprender a sonhar! Sorrir. Isso mesmo! Sorrir “gargalhando” como ele faz! Atirar-me no chão, rolar, sonhar e mergulhar na imaginação.
Imaginar que tudo é real, que tudo é possível, que tudo eu consigo, que sou o mais forte, que sou dono do mundo! Vibrar com um grito e explodir num salto toda minha alegria. Serei por alguns instantes um louco, um deficiente mental! Mas serei por um pequeno momento, inda que pequenininho, um pedacinho de tempo feliz!
Pronto. Acabou. Agora me recomponho, sou um homem sério, sisudo, de voz eloqüente e impostada, tom firme e grave, impondo de cara minha autoconfiança (na verdade insegurança), mostrando o quanto sou maduro. Pena que o maduro está sempre perto
do podre. E talvez esta seja a minha real situação.
Há, há... Preciso ficar mais verde! Voltar ao zero. Control Alt Del. Resetar minha memória, meu orgulho, meu “sei de tudo” e deixar o HD vazio! Desinfectar a memória!
Agora vou recomeçar, mas recomeçar direito. Rever tudo quanto me ensinaram e ponderar o que realmente é verdadeiro, ou o que realmente é importante e o que será fútil!
Vou lutar pra ser menino nas minhas intenções, e ser homem nas minhas atitudes! Vou ser criança nas minhas palavras e ser gente grande na hora de assumir o que fiz de errado.
Gritar alto como menino e dizer FUI EU! Errei porque não sabia como fazer e tentei mesmo assim, porque ninguém queria fazer!
Vou chorar e espernear pra dizer que eu não aceito fazer o que todos fazem, só para tirar o meu da reta! Encolher-me e ficar assustado como um guri peralta, quando todos acharem que é o momento de revidar e bater, só pra não ficar se passando como covarde, só para se impor e fazer parecer que é melhor ou mais forte.
Agora sim. Voltei a enxergar com olhos de criança e sorrir descaradamente como um menino SEM-VERGONHA, peralta, travesso e acima de tudo, inocente e sincero.
Serei feliz, serei realizado e terei sempre boas lembranças de mim mesmo. Não vou ter que acordar nas madrugadas lembrando de quanto fui infeliz nas decisões ou o quanto sei que sou um grande mentiroso e fraco. Mas agora serei forte, como um menino. Serei forte porque serei Eu, eu menino, eu autenticidade, eu realidade, eu sem mediocridade.
É, é isso mesmo! Vou voltar, vou descer ao chão e me encolher. Vou me diminuir para crescer. Vou regredir para progredir. Vou me aceitar que nada sei para dar o primeiro passo ao aprendizado. Porque será assumindo que não sei que darei meu grande passo para começar a saber. Ao menos o reconhecimento do não saber será minha porta de entrada para a procura do que não sei e, quem sabe, daí possa aprender o que até aqui meu orgulho não me permitiu conhecer.
Achei! Era isso que faltava. Eu preciso aprender que não sei pra começar a aprender o que achava que sabia! Vou voltar a ser o que comecei sendo, mas fui interrompido para ser gente grande. Eu estava no caminho, mas fui saindo, saindo para ser igual a todo mundo! Eu fui ficando igual e o que precisava era simplesmente ser eu mesmo, eu mesmo menino, eu mesmo pequeno, frágil, desprovido de GRANDES CONHECIMENTOS e com muitas coisas sem entender, porque, minha cabeça de menino, era mais simples, entendendo apenas o simples, descartando o complicado.
Vou voltar. Vou voltar a observar os meninos, os pequeninos. Vou reaprender a linguagem da simplicidade e sinceridade. Então serei mais feliz, mais descomplicado, mais puro, mais sincero e mais autêntico. Verei que o mundo terá soluções mais rápidas, claras e diretas. Isso! Isso é o que está me faltando.
Ainda há tempo? Ahhh, o tempo agora será meu! E não serei mais do tempo. Pressa? Já não seio o que é pressa! Já viu um menino preocupado como o tempo? O tempo é todo dele! Ele vai além da concentração quando está imbuído numa tarefa! Ele mergulha tão profundamente que acredita estar num mundo real, um mundo dele, um mundo com cores reais, com palavras verdadeiras e toda a fantasia é pura realidade! Não sobra tempo para o tempo, mas sobra tempo para esquecer da hora!
Vou seguir essa estrada, de mãos dadas com o menino. Vou deixar que ele me leve a rever o caminho que esqueci, os rios que esqueci de pular, as folhas que deixei de catar, as pedras que perdi o jeito de atirar.
Vou voltar a olhar pro céu, mas olhar com as costas deitadas no chão, as palmas da mão viradas para o solo e cabeça erguida para as nuvens e os olhos quase que fechados tentando enxergar o sol.
Agora só de pirraça, sim, pura pirraça, não vou sair de onde estiver enquanto não voltar a ser o que um dia tive a felicidade de ser e, sem saber, era feliz.
Mas estou de volta, to voltando a ser quem fui. Sem pressa, sem me preocupar com o tempo, sem ninguém me apressando, vou de vagar, vou no meu ritmo, vou no meu sonho, vou retomar minha inocência.
Pronto. Regredi e já não tem mais volta, já voltei a ser pequeno e não adianta tentar me convencer, porque agora minha cabeça de menino já não consegue mais ouvir e entender argumentos de gente grande. Se quiser falar comigo, fale como um menino, fale minha língua, fale direto, fale sincero e seja do meu tamanho. Fui....

_________________________________________________

* Jonas é um grande amigo e excelente designer gráfico. Antes de postar esse lindo texto, meu coração se encheu de alegria, prazer e risos, afinal, em temos de tanta frieza, tanta falta de sensibilidade, tanto desamor, a gente ainda pode ouvir, sim, o barulho dos ventos nas árvores. Como esse texto, por exemplo, que nos convida a voltar a sonhar, a retomar a inocência; a voltar a enxergar com olhos de criança e a sorrir descaradamente como um menino, sem pressa. Não resisti: ilustrei como um menino. Postei como menino. Valeu, Jonas!

6 comentários:

Preta Arsenio disse...

Ah, ah, ah vou ser a primeira a comentar. Como mulher que acredita pouco na sensibilidade masculina, faço minha reverência a este cara super inteligente, sensível ao olhar da vida do tempo, da mudança que sofremos, das que não queremos e nem devemos sofrer. A perda do olhar infantil sobre as coisas sobre o mundo, sobre a vida recém descoberta e descortinada o desconhecido novo e sempre belo sem filtros do medo e da desconfiança.
Bom sem mais, Jonas: você é o cara!
Beijo.
Flamir a ilustração ficou perfeita libertadora que é como agente se sente quando termina um texto assim.
Beijo grande.

direto de terras brasilienses

Flamir ambrósio disse...

Valeu, pretinha!!
Amei o recadinho.
De fato, o texto é emocionante! Vou encaixar mais duas ilustrações nele. Vai ficar legal! Vc verá!
Bjs e excelente férias!!!!

nEle,
Fla.

Jonas lemos designer disse...

Se há algo que carrego orgulhoso é saber que consegui ser, de forma autêntica, um menino nas palavras com a responsabilidade de um homem que assume sua perda da ingenuidade, como se perdesse sua grande relíquia, mas não se esqueceu de deixar um mapa dentro da garrafa, para que, num dia em que a esperança virasse fábula, pudesse recolher no mar tempestuoso, o caminho para desenterrar seu tesouro e resgatar todo seu começo.
Obrigado Flamir por perpetuar meus sonhos.

Flamir ambrósio disse...

Faaala, querido Jonas!

Olha, simplesmente eu que agradeço a Deus por sua vida. Que o Senhor continue a lhe capacitar em tudo que o irmão vier a fazer, principalmente através de textos, como esse, por exemplo, que têm a tendência de nos fazer chorar, refletir sobre a vida, rever conceitos muito íntimos e aprender que é necessário “regredir”; que é necessário termos a cabeça de menino; que é fundamental não ouvir mais aqueles argumentos de gente grande.

Um grande abraço
nEle,
Fla.

Wagner de Almeida disse...

Realmente este texto nos deu muitas alegrias, como se diz, recordar é viver. Apesar de ter que "crescer" antes do tempo, voltar a ser criança depois "velho" e bom d+.
Me "sujar" com lembranças do futebol na chuva com meus irmãos, carrinhos de rolimã, brincar de queimado, era o meu favorito, e agora quando chegar em casa virar criança junto com meu principe. Brincar de cabana, agora a brincadeira do momento.
Obrigado Jesus por nos permitir ver nossos filhos ser o que não conseguimos e fazer o que não podíamos.
Obrigado Jonas por escrever inspirado por Deus e compartilhar esta pérola conosco.
Obrigado Flamir, por postar e ilustrar este texto, lindo.
Que Deus continue nos abençoando muitíssimo.

Nós vivemos o presente, sonhamos com o futuro, mais aprendemos com o passado.

Flamir ambrósio disse...

Graaaande, pastor Wagner!
Que legal pode ver seu recadinho aqui. De fato, o Senhor Deus capacitou nosso amigo Jonas.
Um grande abraço.
Abaixo, segue um pequeno texto escrito para o pastor César Moisés em seu blog; um texto que, de alguma forma, retrata o pai que tive, minha infância, enfim, um pouco do exercício da paternidade, sem máscaras e farisaísmos.

“Dia 08 de agosto, 9h10, acabei de ler “Abbá Pai” quando, de repente, meu filho vem em minha direção com um belo sorriso e braços levantados: feliz dia dos pais, papai!!! Rapaz, isso me quebra completamente! Derreto-me assustadoramente quando me vejo diante de tal situação! Não porque seja “o dia dos pais”, mas por perceber nitidamente que, para exercer minha paternidade nesse novo tempo, marcado profundamente pela impessoalidade e pela desumanização, é necessário que os princípios imutáveis da Palavra de Deus – o Pai por excelência – de fato, estejam enraizados em meu ser pela Pessoa de Jesus de Nazaré. Não há como fugir disso. Não há outro caminho a não ser na Pessoa dEle, o homem ideal, o arquétipo ideal, a referência ideal. Por isso, derreto-me, sim, afinal, o Pai nos recebeu de braços abertos, sem atentar para as nossas misérias, os nossos sentimentos mais primitivos. Somos escolhidos dEle, e os escolhidos, como disse John Piper, vão a Cristo por entender, repito, que Ele é o maior referencial de masculinidade e paternidade. Quando tenho absoluta consciência disso, pastor César, exercito minha paternidade com firmeza, sempre permeada de doçura e gentileza, responsável e generosamente afetiva e acolhedora, como escreveu, com propriedade, pastor Luciano Vilaça, em seu livro “De Pai pra Filho”.
Meu papai faleceu em janeiro de 2004. No ano seguinte, eu lancei o livro “Franz, compartilhando a dor, a paternidade e os afetos”. Um livro escrito sob lágrimas, literalmente, e que fala de um pai que nos ensinou a viver ouvindo o barulho do vento nas árvores; que nos ensinou a "arrancar todas as folhas” de certos livros que tentassem nos “catequizar”, de maneira metodológica e litúrgica, a abraçar, beijar, cheirar, "poetizar", saltar das árvores, tocar violão, "cartunizar"; um livro que fala de um pai que nos fez contemplar horizontes e brincar com o fluxo e refluxo das ondas do mar sem nunca perdermos a sensibilidade do vento que gela o rosto, mas que almeja aquecer o coração; enfim, um livro que fala de um homem repleto de defeitos, mas amante da vida (apesar das dores e sangrias), da poesia, da música, da arte, da esposa, dos filhos e, principalmente, de Deus.”

nEle,
Fla.