Marcelo de Oliveira e Oliveira
Em algumas partes do meio
evangélico pentecostal, uma mãe chorar a morte do filho ou a esposa
sofrer a partida repentina do esposo é “pecado”. Quer-se a todo custo
que a pessoa enlutada permaneça firme na “obra de Deus”.
Infelizmente, esse pensamento faz parte de uma perspectiva teológica
equivocada e sem contexto de que os “mortos devem enterrar o seus
mortos” e de que não há tempo para o “servo de Deus” sofrer as agruras
da vida porque a “obra de Deus” não pode parar. Pessoas
que pensam assim, não têm noção de que a maior obra de Deus, neste
caso, é consolar quem perdeu o seu ente querido: “Se alguém entre vós
cuida ser religioso e não refreia a sua língua, antes, engana o seu
coração, a religião desse é vã. A religião pura e imaculada
para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas
tribulações e guardar-se da corrupção do mundo” (Tg 1.26,27).
Que tristeza ver pessoas se desumanizarem em nome de uma fé que nada tem
a ver com o Evangelho! Pior ainda é contemplar gente disferindo ataques
contra o dia de finados pensando defender a fé cristã. Não vou tão
longe, no sentido de fazer culto aos mortos,
pois pelo Evangelho eu sei que Deus é o Deus de vivos e que quaisquer
pessoas que, em Cristo, passaram da vida para morte estão vivas.
Entretanto, a memória de quem se foi deve ser preservada sim. A mãe deve
viver o luto da passagem do seu filho. Ora, imagine
a dor! Imagine o sofrimento! Imagine a angústia!
No luto, o tempo é de parar e de se recolher. É tempo de repensar a
vida. É tempo da comunidade dos santos sair das quatro paredes para
consolar, abrandar o sofrimento e dar o absoluto apoio para a pessoa
enlutada. Não é tempo de cobrar a ausência aos cultos
da pessoa enlutada.
Por favor, não faça isso!
Embora eu entenda que pode haver a mais pura e doce intenção nessa
cobrança, isso soa despreocupação com o estado existencial de quem
perdeu o ente querido.
Recentemente, aconselhei uma pessoa dilacerada pela dor da perda e pela
dor de não ter achado em sua igreja local o consolo e o abraço amigo.
Isso ocorreu fora do Rio de Janeiro.
Como é triste batalhar a vida inteira pela causa do Evangelho e quando
se mais precisar não achar apoio onde deveria havê-lo em primeiro lugar:
“visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações” (Tg 1.27).
Com muito amor e carinho, a senhora sofrida ouviu de minha boca as
palavras pelas quais passo a relatar: Minha irmã, ignore totalmente as
palavras de quem pensa assim, pois ela não sabe o que diz. Não adianta
persistir! Essa pessoa não entenderá o que realmente
importa na causa do Evangelho. Quanto à senhora, chore a morte da sua
filha. Chore, porque Jesus chorou a morte do seu amigo Lázaro, o que
significa que o nosso Senhor compreende bem o que a senhora está
sentindo. Leia diariamente os salmos 23 e 38. Esses
salmos me confortaram muito quando fui atacado pela depressão. Leia-os
orando, pedindo misericórdia e graça ao Senhor. Tenho certeza de que o
nosso Senhor não lhe abandonará, como não me abandonou. Se puder, faça
uma viagem com suas outras filhas e esposo.
Vá para bem longe, procure está mais próxima daqueles que te amam e lhe
querem bem. Isso não vai sarar a dor da perda, porque não há nada que
repare a dor de uma mãe que perdeu uma filha, mas tais atitudes
certamente lhe trarão consolo e esperança. Mais paz
e equilíbrio, sabendo que a sua filha amada agora está viva com o Pai.
Com isso, o Corpo de Cristo deve consolar uns aos outros para todos tenhamos esperança em Deus (1 Ts 4.18).
Que essa humilde palavra também possa servir de consolo e paz para você, seja a que cobra o outro, ou seja a pessoa enlutada.
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Marcelo de Oliveira e Oliveira é pregador do Evangelho desde que a Graça de Deus o inundou por inteiro. Casado com Gilmara dos S. e Oliveira.
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Um comentário:
Olá, Flamir.
Ótima postagem.
Passei pelo luto duas vezes.
Na primeira, era 1977, uma fatalidade levou meu irmão dois anos mais novo que eu. Sonhei muitas vezes que aquela morte fazia parte de um sonho ruim e acordava decepcionado constatando a realidade da perda. Superei.
Recentemente, perdi minha mãe. Meu coração recebeu o consolo do Espírito, me avisando que ela estava salva em Cristo, antes mesmo que os médicos anunciassem o óbito dela. Mas, mesmo assim a reação física que experimentei foi algo inédito. Aos 47 anos, percebi que nem eu mesmo me conhecia completamente. Fui surpreendido por um tremor nas carnes dos braços e pernas; não queria chorar, contudo as lágrimas desciam... Acontecia sem que pudesse parar, como o descontrole de piscar os olhos, como a ação de respirar e inspirar... Superei isso, também.
Nesta segunda ocasião, tive o desconforto de ouvir “crentões” dizendo que não deveria agir daquela maneira, como se fosse tudo premeditado.
Eliseu | http://belverede.blogspot.com
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