HOMENAGENS

Um designer de classe,
elegância e ritmo perfeito!


Faz tempo que não posto aqui alguma homenagem aos feras do traço. Nessa retomada, sinto-me desafiado, afinal, a pessoa que apresento é um grande amigo e excelente designer: Jonas Lemos.

Dizem que criticar é fácil, ou, como canta Jota Quest, “Fácil, extremamente fácil”. Agora, tecer um elogio a alguém que você admira, pra mim torna-se muito difícil, complicado. Acredite! Primeiro, porque é meu amigo; segundo, porque o cara é bom no que faz. Pronto, estabelecida a crise — pelo menos comigo é assim —, vou lhe fazer então uma perguntinha básica: como elogiar um cara que é excelente? Como elogiar Messi, Neymar, Zico, Garrincha e Pelé? Como elogiar Van Gogh, Salvador Dalí, Lissitzky, Davi Carson? (fique à vontade na escolha da personalidade que você mais admira!). Claro que nenhum desses caras foram (e são) meus amigos, e nem de longe quero traçar algum tipo de comparação com meu amigo Jonas (cada artista tem suas peculiaridades). Todavia, cá entre nós, é uma tarefa difícil! Aí você insiste: “Mas Flamir traçou esse paralelo porque é amigo dele!”. Ou, de repente, o próprio Jonas dirá: “Menos, Flamir! Menos, menos, menos!”. Categoricamente, respondo que NÃO — em caixa alta mesmo! Jonas é puro talento de Deus e se dedica com paixão no que faz. Um cracasso do designer; e craque a gente sabe: é aquela pessoa que desempenha seu trabalho com facilidade, fineza, classe e elegância. Isso você pode conferir na íntegra clicando no link, no final do texto.

Autoretrato
Casado com Débora e pai de Bianca, Davi e Bernardo, Jonas é graduado em design gráfico pela Universidade Unicarioca, campus de Rio Comprido / RJ. Conquistou o diploma de nível técnico em Design Gráfico no Senai de Artes Gráficas.

Capaz de desenvolver com maestria campanhas de publicidade na imprensa e criar projetos em design editorial corporativo, promocionais e gráfico, como se não bastasse, o camarada tem experiência em branding, desenvolvimento de embalagens e design gráfico para CDs e DVDs.

Vencedor do concurso para a escolha da marca da editora Factory (2009), pela Fundação Gutenberg e primeiro lugar na avaliação do projeto gráfico de graduação Unicarioca - 2014 (o teste avalia os conhecimentos adquiridos pelos estudantes e recém-formados a partir do último período de faculdade), atualmente, o artista executa projetos para editoras, agências de publicidade e escritórios de design.

Capa e contracapa: projeto gráfico
Um detalhe que certamente lhe surpreenderá: o cara é um músico que dispensa comentários, e, principalmente, servo de Deus. Ama o Evangelho e fala de Jesus sempre com muita ternura e paixão. Razão pela qual é o fundador do PodChrist, um projeto que tem por objetivo expressar uma demanda de Cristo através de um talkshow cristão, com a apresentações de bandas e cantores, mediado por um entrevistador. O programa aborda temas relacionados ao meio musical, com debates abrangendo a esfera social e cultural do país. Um trabalho maravilhoso que está no seu terceiro ano e é apresentado bimestralmente no espaço da Comunidade de Jesus, em Botafogo, RJ (link abaixo).
  
Jonas conhece, como poucos, o universo da música, mais especificamente, o rock e suas nuanças. Tive o privilégio de assistir a uma apresentação de sua banda Pravda. Foi extremamente edificante. Concluo dizendo o seguinte: uma coisa é você tocar, outra é trazer nas veias, não somente as “tintas” do design, mas as “notas” da musicalidade também.

Parabéns, Jonas! 
Que Deus abençoe você sempre!




 
Mauro Souza: fantástico!
Mauro Souza nasceu em 1974. É ilustrador e arquiteto formado na UFPA com mestrado na EESC-USP.
Trabalha para Maurício de Souza Produções como designer de cenários exercendo animação desde 1998. Neste período, desenhou para filmes publicitários, séries para TV e longa metragem para cinema.
Como ilustrador,  publica em várias revistas da Editora Abril, tais como: Superinteressante, Mundo Estranho, Info Corporate, Placar, Recreio, Você S/A, Saúde, entre outras edições especiais.
Ilustrou livros paradidáticos para Editora Globo, FTD e Ediouro.
Você pode se deleitar com os traços desse jovem acessando:
http://www.estudio22.com.br/home.html ou http://mauro-souza.blogspot.com/



Tiago Hoisel e suas ilustrações absurdamente fenomenais
Mais uma dessas “navegadas” e a gente acaba encontrando gente muito talentosa. Chama-se Tiago Hoise. O cara é fenomenal! Em seu atual blog você se deliciará com ilustrações muito legais. Vale a pena clicar e se divertir com as ilustrações desse jovem!






Zé Roberto Graúna: um cartunista
e pesquisador amante da arte e da vida

"Não é possível estar dentro da civilização e fora da arte", já disse Rui Barbosa. Queridos, é com muito prazer que presto essa simples homenagem a um grande – apesar dos seus um metro e cinquenta – amigo que tem dedicado sua vida a arte gráfica: Zé Roberto (caricaturado por Erthal). Falar do Zé (perdoe-me, mas devido a intimidade, não tem como escrever de outra forma) é simples, o “problema” é começar a falar com ele. Digo isso porque conversar com o Zé, é deixar com que a sua alma seja tomada por tudo que envolve a arte gráfica no Brasil e no mundo, principalmente quando o tema é charge, cartum, quadrinhos, caricatura, escultura, eventos de exposição e por aí vai. Conheço o Zé há bom tempo, desde da época do Pasquim. Reencontramo-nos em 1995, na redação do jornal que eu tinha e relembramos amigos da época e projetamos algo que viabilizasse a publicação de seus trabalhos em nosso "pasquim evangélico”. Foi um encontro rápido, porém eterno. Tivemos outros vários encontros também, inclusive em minha casa e no lançamento do meu livro, em Niterói. Com o passar do tempo, mantivemos contatos, no entanto com menos frequência. 

Com Chico e Ziraldo, em 2007

Louvo a Deus pela vida do Zé! Minha alegria se multiplica porque sei que ele é um cara temente ao Senhor Jesus, um profissional que ama o que faz e sabe perfeitamente o quanto é importante investir tempo e dinheiro para que o artista gráfico brasileiro não seja visto como uma “espécie em extinção”. Sua dedicação me surpreende e, de certa forma, impulsiona-me a trabalhar mais, desenhar mais, escrever mais, participar de eventos expositivos mais, enfim, seu empenho me fortalece de tal forma que o sentimento de produzir e estar mais próximo às pessoas que amam a arte se renova a cada instante. Isso é bom demais! Consigo ver luz no fim do túnel!
Portanto, conheça um pouco mais sobre esse cartunista e pesquisador que iniciou suas atividades como artista gráfico em 1985, na imprensa sindical e que assina, desde 2003, a coluna “Desenharte”, no Jornal de Letras, editado por Arnaldo Niskier, um espaço em que ele comenta e divulga tudo sobre o mundo do desenho. Acesse: zerobertograuna.blogspot.com, vale a pena!


Henfil, simplesmente gênio


HENFIL HENRIQUE DE SOUZA FILHO, ou Henfil como era conhecido o desenhista jornalista e escritor, nasceu a 05 de fevereiro de 1944, em Ribeirão das Neves - Minas Gerais, e cresceu na periferia de Belo Horizonte; onde frequentou o Colégio Arnaldo da Ordem do Verbo Divino, um curso supletivo noturno e um curso superior de Sociologia, que abandonou depois de dois meses. Henfil morreu no Rio de Janeiro, em 04 de janeiro de 1988, com 43 anos. Era hemofílico e contraiu Aids através de uma transfusão de sangue, mas sempre teve uma saúde bastante delicada, assim, como seus dois irmãos (Herbert e Francisco Mário ) também hemofílicos.
Além deles, Henfil tinha mãe e mais cinco irmãs. Foi embalador de queijos, "boy" de agência de publicidade e jornalista, até especializar-se, no início da década de 60, em ilustração e produção de histórias em quadrinhos, tornando-se conhecido nacionalmente, a partir de 1969, quando passou a colaborar no "Pasquim", lançando em 1970 a revistinha "Os Fradinhos", ou apenas "Fradins". Suas tiras foram posteriormente divulgadas em vários países, do mundo sob o título "The Mad Monks", mas a experiência durou pouco, pois seus personagens foram considerados doentios. Foi em 1964 o início da carreira de cartunista e quadrinhista Henfil. Deu-se na Revista Alterosa de Belo Horizonte, a convite do editor e escritor Robert Dummond, onde nasceram originalmente "Os Fradinhos". Em 1965, começou a fazer caricatura política para o Diário de Minas, em 1967, fez charges esportivas para o Jornal dos Sports do Rio de Janeiro, colaborando ainda nas revistas Visão, Realidade, Placar e o Cruzeiro. A partir de 1969, fixou-se no semanário Pasquim e no Jornal do Brasil, onde seus personagens atingiram um nível de popularidade pouco comum em termos de Brasil. A produção de histórias em quadrinhos e cartuns do mineiro Henfil já possuía então sua marca registrada: um desenho humorístico político, crítico e sátiro, com personagens tipicamente brasileiros. Após uma década de trabalho no Rio de Janeiro, Henfil mudou-se para Nova York, onde passou dois anos em tratamento de saúde e de onde resultou seu livro "Diário de um Cucaracha". De volta ao Brasil residiu algum tempo no Rio e depois em Natal - RN, retornando novamente ao Rio de Janeiro. Além das histórias em quadrinhos e cartuns de estilo inconfundível, Henfil realizou, também, uma peça de teatro - "A Revista do Henfil" (em co-autoria com Oswaldo Mendes); escreveu, dirigiu e atuou no filme "Tanga - Deu no New York Times", teve uma incursão na televisão com o quadro " TV Homem", do programa "TV Mulher", na Rede Globo de Televisão. Como escritor, publicou ainda sete livros. São eles: "Diário de um cucaracha", Hiroxima, meu amor" (1976), "Dez em humor" (coletiva, em 1984), "Diretas já " (1984) e "Henfil na China", 'Fradim de Libertação" (1984), "Como se faz humor político". (1984). Henfil destacou-se, também, pela sua participação na política do país, devido ao seu engajamento na resistência contra a ditadura, pela democratização do país, pela anistia aos presos políticos e pelas Diretas Já. Finalmente, é importante ressaltar o papel exercido por Henfil na história dos quadrinhos brasileiros: na renovação do desenho humorístico nacional; na criação de personagens típicos brasileiros, como "Os fradinhos", o "Capitão Zeferino", a "Graúna", e "Bode Orelana", entre outros - fazendo um quadrinho da descolonização, em uma época que isto era exceção, já que os quadrinhos nacionais tinham seu desenvolvimento sufocado pela distribuição dos quadrinhos norte-americanos pelo mundo inteiro; por seu combativo e alegórico humor gráfico brasileiro, fazendo da crítica uma arma de resistência e combate ao sistema político do país.
O humor que vale para mim é aquele que dá um soco no fígado de quem oprime" (Henfil, em "O Rebelde do Traço - a Vida de Henfil", Dênis de Moraes, José Olímpio Editora, Rio, 1997)
Então diretor da revista mineira Alterosa, o jornalista Roberto Drummond (autor do best-seller "Hilda Furacão"), mandou chamar aquele revisor que só ficava fazendo desenhinhos no expediente. Eram cartuns meio humor negro, sobre um suicida que pulava do prédio de guarda-chuva para não se molhar.
- Vou te transformar em cartunista da "Alterosa".
- Mas já no próximo número?
- Sim. Você vai ganhar dez vezes mais. Mas temos que escolher um nome para você assinar os desenhos. Qual é o seu nome todo?
- Henrique de Souza filho. Eu podia assinar Henriquinho, como todos me chamam.
- Nada disso. Você vai assinar Henfil. Hen de Henrique e Fil de Filho.
Roberto Drummond parecia entender mesmo de furacões. Aquele rapaz se tornaria um dos cartunistas mais cáusticos e brilhantes da sua geração. O traço era agressivo mas ao mesmo tempo transparente, inacabado, uma caligrafia nervosa dotada de incrível poder de expressão, que transmitia plenamente a idéia de movimento e podia representar as expressões mais sutis dos personagens. O grosso da carreira de Henfil deu-se dentro do regime militar 1964-1985, e da sua prancheta defendia um engajamento radical e sem concessões contra a ditadura, exceto quando era possuído pelo sádico personagem Baixim e simplesmente fazia uma catarse apolítica e amoral. A militância política vem da família. O irmão mais velho Betinho (o sociólogo Herbert de Souza) foi o seu mentor ideológico. Depois de fazer parte da Juventude Estudantil Católica - JEC (cuja estratégia de aliciação incluía bailinhos organizados pelos irmãos Souza), Betinho foi um dos fundadores da organização marxista Ação Popular (AP), da esquerda católica. Exilado atuante, era ele o "irmão do Henfil" que Elis Regina cantava no hino da abertura "O Bêbado e a Equilibrista" ("Meu Brasil / que sonha / com a volta do irmão do Henfil"). Também uma irmã e um cunhado pertenciam a organizações de esquerda.
O cartunista ainda teve forte atuação nos debates que precederam a anistia, a fundação do PT (o líder petista Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o trabalho de Henfil foi fundamental na sua formação política) e na campanha das Diretas-Já. Fez oposição à Tancredo Neves na sucessão presidencial ("Não Senhora! O Maluf não é tão feio quanto se pinta. (...) Quem é este superdemônio? (...) Atenção todas as viaturas! Larguem o Maluf de Tróia! Pau no Colégio Eleitoral! Diretas nele!!!" Henfil, "Diretas Já!", Editora Record, Rio de janeiro, 1984).
Quando Henfil aterrissou no Pasquim em 1969, em dez semanas tornou-se nome consagrado a ponto de rivalizar com a constelação de estrelas locais: Jaguar, Ziraldo, Millôr, Claudius, Fortuna e Paulo Francis. O incrível sucesso editorial do tablóide (de iniciais 14.000 exemplares chegou a 200.000 no número 27) não foi, infelizmente, acompanhado de sucesso comercial, uma vez que, segundo Jaguar, o dinheiro acabava indo todo para a Escócia - não por culpa de Henfil, que sempre tomava água ou refrigerante por conta dos cuidados com a doença que afligia os irmãos Souza desde o berço. Henfil e Betinho nasceram com hemofilia, doença que atingia também o irmão Chico Mário, compositor.
Há quem associe a violência do ímpeto criador do chargista à ânsia de viver, sentida por todo hemofílico que corre constantemente perigo de vida. Um pequeno corte ou sangramento na gengiva podem se converter em hemorragias fatais. Depois de atravessar a vida driblando aqui e ali a doença hereditária, contraiu o vírus do HIV numa transfusão de sangue, numa época em que a AIDS estava começando a ser compreendida. Henfil morreu em 1988 com apenas 44 anos incompletos. Das inúmeras criações de Henfil - torcedores para a imprensa esportiva, operários para a imprensa sindical, paranóicos como Ubaldo e patrulheiros ideológicos como o Cabôco Mamadô, que mandava as personalidades solidárias ao regime ou alienadas para o Cemitério do Mortos-Vivos - os personagens mais elaborados e perenes são, sem dúvida, os Fradinhos e o trio Zeferino, Graúna e Bode Orelana.

O divã do dr. fradim
Baixim e Cumprido eram a princípio dois frades sacanas, que corriam atrás do ladrão não para prendê-lo, mas para repartir o dinheiro roubado entre si. Logo depois cristalizou-se a fórmula definitiva: Baixim fazia as maiores nojeiras e sacanagens, batia em velhinhos, crianças, cegos e aleijados, só pelo prazer de escandalizar o sensível Cumprido.
Pode parecer fácil, à primeira vista, o leitor se identificar com o Baixim, na medida em que ele tornava visível a hipocrisia do colega conservador. Por exemplo, o Cumprido dá uma esmola e o Baixim solta esta: "que bacana, você normalmente aplaca sua consciência culpada com esmolas de 100 ou 200?" (belo contraponto com a Campanha Contra a Fome que Betinho lançaria em 1993...). Mas o surpreendente Henfil não parava neste dualismo simplista. Muitas vezes o sadismo do Baixim não tinha nenhuma razão de ser, era crueldade pura e simples. Cumprido, sempre vítima, em certos momentos conseguia dar a volta por cima e desmoralizar o Baixim, fingindo que não se incomodava com suas baixarias (o que deixava Baixim, evidentemente, arrasado). Ou então o Baixim, que antes do Cumprido chegar estava brincando de roda com uma garotinha, de cavalinho etc, com a chegada do amigo reassume a persona cruel só para manter as aparências. Às vezes era muito claro o papel político que cada um representava: o Cumprido respeitava o sistema e o poder, e o Baixim personificava a liberdade represada que explodia feito vulcão. Mas nem sempre. Ocorria também o contrário, como numa charge em que o Baixim ficava triste com o fim do AI-5, e só conseguia sair da depressão e respirar melhor depois que o Cumprido providenciava repressões e torturas para animar o colega. Parece-me, porém, que o ambiente do Baixim não é o político, mas o psicológico, e se refira à experiência que cada um pode ter ao confrontar-se com seu próprio Baixim interior - os impulsos sádicos e destrutivos contidos pela razão e pela moral. Henfil dizia que a crueldade do Baixim o surpreendia, e não acho que fosse apenas charme de criador de personagens. Em 1973, morando em Nova York para conhecer novos tratamentos para a hemofilia, tentou vender os seus personagens Fradinhos para um grande distribuidor americano. Assinou contrato com a Universal Press Syndicate (UPS) e os Fradinhos (rebatizados "Mad Monks") seriam distribuídos para 200 jornais de costa a costa. Inicialmente dez grandes jornais compraram os Mad Monks. Logo choveram cartas dos leitores protestando contra o quadrinho "sick" (doente, mórbido) e o distribuidor desfez o acordo.

O Brasil em miniatura na caatinga
A tira do Zeferino era uma metáfora explícita do Brasil, com evidente intenção de catequese política. A começar pela forma didática de história em quadrinhos, em que um tema era mastigado e desenvolvido em diálogos e situações cômicas. A história parecia acontecer no sertão nordestino, mas Henfil garante que a ação se passa no norte de Minas, terra de seu pai. Que seja. A caatinga era um Brasil em miniatura. Zeferino é um cangaceiro, líder do bando formado por um passarinho preto e um bode. O bode traz o nome pomposo de Francisco Orelana (explorador do rio Amazonas e herói do imaginário sul-americano) e come livros - paródia do intelectual teórico e dirigista. O passarinho preto é a Graúna, personagem tão complexo que é difícil definir: ingênua, esperta, doce, infantil, sensual... Os três são "o povo" da caatinga. Numa história exemplar, os três resolvem pedir um empréstimo ao governo para furar um poço artesiano. Primeiro, tentam parecer bem pobres para conseguir o financiamento, mas só consegue o empréstimo quem aparentar que não precisa dele. Voltam à financeira de terno e gravata, mas a barriga da Graúna não pára de roncar e eles fazem até batucada para encobrir o sinal da fome. No final conseguem o empréstimo, não para água, mas para fazer uma pornochanchada (filme erótico dos anos setenta, ingênuo e popular). Começam a bolar o filme. Têm que arranjar um nome bem imoral. A Graúna sugere: "A Fome!". O bode retruca que a fome não é imoral. E a Graúna: "Uai! A censura liberou?". E por aí vai (para satisfazer a curiosidade, o nome escolhido é "Tem Peba nas Ceroulas", produção da Pornoxaxado S.A.).

A tática gráfica do anti-disney
O talento de Henfil era multimídia: fez cartuns, quadrinhos, artigos (as famosas "Cartas da Mãe"), livros ("Diário de um Cucaracha", "Henfil na China"), teatro, TV, cinema. O traço ágil, sintético e personalíssimo, de fato parecia uma caligrafia, não só por se assemelhar a uma escrita, mas por seu caráter personalíssimo e intransferível. A simplicidade da solução gráfica é ilusória; trata-se de um desenho muito difícil de copiar, porque a ausência de construções clássicas (formas geométricas, volumes, detalhes de roupa) diminui a distância entre o autor e o traço final, como numa assinatura. Um personagem com construção visível como a Mônica tem meia-dúzia de expressões padronizadas (olho aberto, olho semi fechado, olho fechado dormindo, olho fechado com raiva, olhar triste e olhar enfurecido). Já a Graúna, não existem duas com a mesma expressão. Ela é uma "personagem em construção permanente". O mínimo deslocamento de um tracinho já altera a expressão e o sentimento. Henfil disse mais de uma vez que o importante no seu desenho não era o traço, mas a idéia: "Eu nunca fui de me preocupar com a forma e o desenho. Só taticamente ele me interessa" (em "Diário de um Cucaracha"). Esta afirmação não confere com a realidade observada. Apesar dele ter sido um criador e um desenhista extremamente veloz, era capaz de refazer o mesmo desenho dezenas de vezes até encontrar a expressão exata produzida por uma combinação de rabiscos. Preocupado com a expessura do traço na publicação impressa, se um desenho saía impresso muito grande ou muito pequeno, dizia que o diagramador sofria de miopia ou hipermetropia. Então, era um cara bastante atento à dimensão gráfica do desenho, não apenas ao conteúdo ou mensagem. O que acontecia era o seguinte: seu desenho, além das motivações de temperamento e influências que recebeu (por exemplo, de Borjalo, que mais recentemente fez as vinhetas do programa "Sai de Baixo" na Globo), servia muitíssimo bem ao seu projeto de vida: ser um Walt Disney da esquerda, penetrar em todas as mídias sem fazer concessões ao capitalismo. Como produzir tamanho volume de material artístico sem linha de montagem de roteiristas, desenhistas e artefinalistas? Sem se tornar patrão e explorador da classe ilustradora? O traço rápido o permitia. A idéia chegava quente no papel, sem assistentes, sem intermediários. Outra possibilidade seria uma cooperativa de desenhistas, ideal difícil de realizar, ou de manter por muito tempo sem atritos de egos. Mais fácil era ser o Walt Disney de si mesmo. Chegar inteiro na frente do leitor e dizer, "ó, tudissaí fui eu que fiz, tem escravo pra passar nanquim não...". Alienação zero. Vai mais um trecho do "Diário de um Cucaracha" que aponta nessa direção, escrito quando Henfil estava em Nova York: "Eu só queria isto tudo para poder espalhar minhas idéias, falar das 'verdades sociais' de igual para igual. Usando a mesma máquina, o mesmo veículo. Depois? Depois fazer desenhos animados. (...) O Tico-Tico no Fubá serviria para a entrada em cena da Graúna, dançando e arrumando os letreiros de apresentação: 'Henfil presents - Canudos II!' O anti-Disney exibido nas TVs CBs, ABC, BBC, Globo. Rê! Rê! Rê!"



Rok Dovecar, o caricaturista das celebridades hollywoodianas



 "Navegar é preciso; viver não é preciso", diziam os antigos navegadores. Pois bem. Numas dessas “navegadas” encontrei o traço do excelente artista das estrelas, ou seja, deparei-me com Rok Devecar, web designer, ilustrador e caricaturista. O cara é bom! Em seu site  www.boulevardofthestars.com você  encontrará uma galeria de caricaturas de artistas hollywoodianos, celebridades que você conhece muito bem através de filmes, televisão e música. Uma galeria em constante expansão com novas caricaturas, razão pela qual, o artista nos convida sempre a visitá-lo. Vale a pena clicar e se divertir com o traço desse fera!



Glauco, o cartunista do humor ácido

Dono de um traço marcante, estilo de humor ácido e piadas visuais rápidas, morre Glauco – ver Link –, um dos maiores cartunistas que o Brasil teve. Criador de personagens como Geraldão, Geraldinho, Dona Marta, Zé do Apocalipse, Casal Neuras e Doy Jorge, Glauco influenciou gerações (posso dizer que faço parte) que entenderam muito bem sua linguagem passando a tê-lo como uma grande referência no humor gráfico. Segundo o próprio cartunista, seus trabalhos tinham fortes referência a sexo, drogas e violência urbana em função de suas experiências vividas na grande São Paulo nos anos 80, década em que também passou a fazer parte do elenco de cartunistas do jornal "Folha de S. Paulo". Em 1991, participou, ao lado de Angeli e Laerte, da criação da tira "Los 3 amigos", uma brincadeira do trio de cartunistas com o universo dos filmes de bang-bang e seu retrato dos personagens mexicanos. Em uma entrevista publicada na "Folha de S. Paulo" em 2004, Glauco lamentou a suposta falta de sintonia com as novas gerações. "Meu traço não é bom para retratar o futuro. Corro o risco de não falar a língua da moçada."

 


Fernandes, simplesmente premiadíssimo

Já viu aquelas ilustrações que fazem um bem danado à sua alma? Exatamente isso que senti ao navegar no blog Lápis, papel e Fernandes. Existem diversos caricaturistas espalhados por esse Brasil à fora que merecem nossa admiração e elogios, sem dúvida alguma! Mas o Fernandes, sinceramente, é um caso à parte. O cara “pega pesado”. Vale à pena clicar no link acima e se deliciar com as variadas caricaturas desse artista nascido em Avaré, São Paulo. Atualmente, residindo em São Caetano do Sul, Fernandes trabalha no jornal Diário do grande ABC e, desde 2001, participa de salões de humor. Ah, só mais uma coisa: confira uma entrevista com esse fera clicando aqui .

 

4 comentários:

Zé Roberto Graúna disse...

Ótimas postagens, Flamir!
Henfil era mesmo genial. E para quem quiser ter na sua estante um livro completo sobre o Henfil, eu sugiro "O Rebelde do Traço", do proefessor Dênis de Moraes. Grande abraço!

Flamir ambrósio disse...

Graaande, Zé! Olha, com relação ao Henfil, não tenho palavras. Caso eu decida por achar uma, aí vai: Gênio.

Abração,
Flamir

Jonas lemos designer disse...

Grande brother. Obrigado por me colocar aí em seu blg, ao lado de feras como Zé Roberto, Fernandes, Glauco e, quem diria, estar na mesma página de um comentário sobre o Henfil. Bom, acho que ao menos vc é um dos poucos que alcançou a ideia de homenagear tb os vivos!
Ainda vou reunir com os feras de design, grandes amigos seus e meus, para montar seu histórico e deixar no seu próprio blog uma homenagem a vc! rsss Mas aí vai ter que disponibilizar umas duas seções e muitas janelas! rssss
Valeu Flamir. Obrigado.

Flamir ambrósio disse...

Jonas, meu querido amigo e designer de tirar o chapéu (caraca, essa é velha! rsrs), você merece muito mais que isso. Saiba de uma coisa: veio realmente do coração. Vc me conhece e sabe que, ao me aproximar dos 5.2, não preciso mais barganhar nada (já fiz isso há bom tempo! rsrsr). Que o Senhor Jesus te abençoe e te guarde sempre. Que você seja sempre instrumentalizado por Ele e a Ele toda glória e louvor.


Abração, mano!
nEle,
Fla.